Um peptídeo encontrado no veneno da jararaca poderá ser responsável por um novo medicamento no tratamento da hipertensão. É isso que afirma a farmacêutica e pesquisadora do Instituto Butantan, Claudiana Lameu, em sua tese doutorado defendida recentemente no Instituto de Química (IQ) da USP. Os peptídeos potenciadores de bradicinina (BPPs) atuariam no sistema nervoso central reduzindo a pressão arterial e a freqüência cardíaca.
Na verdade, os BPPs já são utilizados no tratamento de hipertensão há bastante tempo, por intermédio do medicamento Captopril. Contudo eles estão voltados para um outro foco, que é a inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA), ou seja, a diminuição de certas substâncias hipertensoras no organismo.
Contudo, a atuação do peptídeo descoberta pela pesquisadora é totalmente diferente. Os BPPs atuariam no aumento da sensibilidade do barorreflexo. O exemplo que Claudiana utiliza para explicar os barorreflexo é bem simples: “Quando agachamos e levantamos rápido, a nossa pressão poderia diminuir bruscamente e nos deixar com tontura. Porém, nós temos um controle que não deixa isso acontecer. É o controle dos barorreceptores atuando.”
Os barorreceptores mandam informações para o sistema nervoso central (SNC) diminuindo ou aumentando a pressão arterial e a freqüência cardíaca quando necessário. A pesquisadora explica que os atuais medicamentos que atuam na diminuição da pressão arterial têm como contrapartida o aumento da freqüência cardíaca, o que não aconteceria num fármaco originário deste peptídeo encontrado no veneno da jararaca, que diminui, ao mesmo tempo, pressão e freqüência cardíaca.
“Não há no mercado nenhum medicamento que controle esse barorreflexo e os hipertensos têm a sensibilidade desse mecanismo diminuída”, destaca a pesquisadora. Ela comenta que ainda não se sabe a origem fisiológica da hipertensão, mas se sabe vários sinais que identificam um hipertenso até mesmo antes de a pessoa contrair a doença. Um deles é a sensibilidade alterada do barorreflexo.
Efeito terapêutico
A pesquisa feita pelo grupo que Claudiana participa utilizou ratos hipertensos os quais foi inserida uma bomba de infusão que injetava continuamente uma determinada dose do peptídeo no animal por um determinado período de tempo definido. O período mais prolongado de exposição à substância foi de 28 dias.
Quanto ao medicamento a ser produzido, Claudiana entende que ele deve ser utilizado para uso crônico, mesmo porque mais importante que o efeito instantâneo dos BPPs é o efeito sentido depois de algumas horas. “Nós já temos resultados de que, com bomba de infusão, a substância consegue manter a pressão do hipertenso em níveis normais, muito próximo dos animais normotensos (sem problemas de pressão alta ou baixa)”, destaca.
Outra descoberta em relação aos normotensos é que eles não sofrem nenhum efeito quando são expostos ao peptídeo. Uma vez que ele não tem problemas nos barorreceptores, o efeito exercido pelo medicamento seria nulo.
Segundo a pesquisadora não foi encontrado nenhum efeito colateral até o momento. Ela esclarece que a molécula responsável pelo tratamento não está presente apenas no veneno da serpente, mas também no cérebro e no baço. “É algo que é bom pra serpente. Ela não teria essa substância no sistema nervoso se não fosse para algum mecanismo fisiológico importante”, completa Claudiana.
Fonte: Agência USP de notícias