Como funciona o vício, a tolerância e a dependência as drogas?
Biologia

Como funciona o vício, a tolerância e a dependência as drogas?




Para quem tem curiosidade de experimentar a sensação de consumo de drogas, vou dar uma dica: não é preciso se envolver com uma coisa tão perigosa e ilegal. É só comer o seu prato preferido e beijar muito aquela pessoa que se tem paixão. As sensações de euforia e o prazer sentidos são muito semelhantes, embora menos intensos. Você pode achar isto um exagero! Mas não é! Estudos mostram que o consumo de drogas, a degustação de alimentos e a visão de uma pessoa que se tem paixão ativam áreas do cérebro envolvidas com um sistema de recompensa que estimula que a experiência prazerosa seja repetida sempre que possível. Por isto, não resistimos ao alimento e aos lábios da paixão. Comer e beijar é só começar! O ditado não é bem este! Mas não é uma mentira.

O mecanismo de Recompensa
 
Figura: Sistema líbico. VTA ou ATV é área tegmental ventral; Núcleo acúbens ou NA.

Várias partes do encéfalo estão envolvidas no mecanismo de recompensa, em especial o sistema límbico dopaminérgico, particularmente a área tegumental ventral (ATV), que se comunica com o núcleo acúbens (NA) inundando-o com o neurotransmissor dopamina em situações de prazer. A liberação de dopamina índica que a atividade é recompensadora e deverá ser repetida. É um mecanismo muito útil que estimula as pessoas a não recusar o alimento sempre que ele esteja disponível e que estimula as pessoas a se aproximarem para a relação sexual, garantindo a perpetuação da espécie, mas que também acaba conduzindo as pessoas ao vício.

Por que as drogas oferecem prazer intenso?

Para entender o efeito prazeroso das drogas é necessário ter uma idéia de como funciona o mecanismo de recompensa do sistema límbico dopaminérgico. Vários estímulos ativam a ATV. Neurônios da ATV fazem sinapses (comunicação) com neurônios do NA liberando dopamina no espaço entre os neurônios (fenda sináptica). A dopamina liberada pelos neurônios do ATV se liga em receptores da membrana dos neurônios do NA estimulando-os. Normalmente a quantidade de dopamina liberada é reduzida, é rapidamente ela é retirada da fenda sináptica, sendo devolvida aos neurônios da ATV para ser posteriormente reutilizada. O que as drogas fazem é estimular a liberação de quantidades muito maiores de dopamina ou dificultar a sua retirada da fenda sináptica, acentuado e prolongando a sensação de prazer.

Como surge a tolerância e a dependência?

O mecanismo de recompensa tem o objetivo que certas atividades sejam sempre repetidas. Mas com a repetição constante da ação o organismo desenvolve tolerância e dependência, ou seja, necessita de doses cada vez maiores e freqüentes da droga. A ação da dopamina nos neurônios do NA é a chave deste processo.

Quando a dopamina se liga aos receptores dos neurônios do NA ela estimula ativação de genes que coordenam a produção de substâncias celulares que dificultam o mecanismo de recompensa, sendo necessárias doses cada vez maiores de drogas. Mais drogas, mais dopamina.

Quando o organismo fica privado da droga (abstinência), a diminuição na liberação de dopamina ativa genes em neurônios do NA que coordenam a produção se substâncias celulares que tornam os neurônios hipersensíveis (dependentes) à dopamina. Estas substâncias são muito estáveis permanecendo semanas nas células, antes de ser destruídas. Mas muitas pessoas, mantém a compulsão ao consumo da droga por meses, anos ou nunca se livram dela. Especula-se que as substâncias que tornam os neurônios hipersensíveis (dependentes) podem provocar modificações permanentes nos neurônios, fortalecendo a comunicação do ATV com o  NA fazendo que o sistema nervoso reaja permanentemente de forma exagerada a estímulos que lembrem a presença da droga.

O uso de drogas é um processo perigoso, pois quando o sistema nervoso se acostuma aos altos níveis de dopamina rapidamente o corpo vicia, precisa de doses cada vez maiores e fica mais difícil se livrar da vontade de consumir a droga. Por isto, definitivamente: drogas, diga não!
 
Se você quer saber mais sobre o assunto drogas leia a matéria: Aprendendo com ratos viciados em drogas .             




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