A quinta reportagem da série especial sobre os biomas do Brasil mostra, nesta segunda-feira (7), as belezas e os problemas do cerrado, a savana brasileira.
Amanhece e aos poucos o sol desvenda toda a beleza do cerrado. A vegetação mostra que o cerrado não é um só, são muitos. Um dos tipos é o chamado de Campo Limpo, nele não há árvores, são só arbustos e capim. O que se destaca na paisagem são os cupinzeiros, alguns tão grandes que parecem esculturas que ultrapassam os dois metros de altura.
Mais adiante, o cenário já é outro, é a tal da biodiversidade. Só de insetos, são mais de 14 mil espécie. De plantas, a variedade é de 12 mil, aves: mais de 800, entre elas a ema, a maior do Brasil. Por todo lado, uma imensa variedade de plantas e bichos.
O cerrado já ocupou 23% do território brasileiro em 13 estados e no Distrito Federal, hoje quase metade da área original foi devastada, segundo o governo. A ameaça vem das lavouras e pecuária que desde a década de 1970 avançam sobre a vegetação nativa. Menos de 3% do cerrado tem proteção legal como o Parque Nacional das Emas, no sul de Goiás. As imagens de satélite mostram o que aconteceu em volta do parque, hoje uma ilha cercada de plantações por todos os lados.
O que o satélite vê lá de cima pode ser constatado com facilidade em terra. As lavouras, como a de milho, praticamente encostam na cerca de proteção do parque. Como a situação chegou a esse ponto? Uma das explicações está no desrespeito à lei. O código florestal determina que, nas regiões de cerrado, os proprietários rurais mantenham uma área de, no mínimo, 20% das fazendas com vegetação nativa, é a chamada reserva legal. Mas a maioria dos fazendeiros de todas as regiões do cerrado, simplesmente não cumpre a lei.
Há um ano, o Ibama e o Ministério Público Federal começaram um programa para regularizar a situação. Os proprietários rurais que se comprometerem a recompor a reserva legal ficam livres das multas.
“A receptividade vai acima dos 70% e muitos estão fazendo, inclusive, o convencimento dos seus vizinhos para que adentrem nesse processo de negociação que nós abrimos”, diz o superintendente do Ibama/GO, Ary Soares dos Santos.
A busca pelo equilíbrio é fundamental, mais de 20% do PIB brasileiro, a soma de tudo que é produzido pela economia do país, saem do cerrado. Um casal vive na prática a tentativa de conciliação. O fazendeiro Zilmar Lovatto queria aproveitar cada pedaço da terra para plantar.
“O objetivo é ganhar dinheiro na realidade. Você vem e desmata para produzir”, diz o fazendeiro.
Já a esposa Maria Otília Zardo é entusiasmada com o desmatamento. A reserva legal pode ter uso comercial com a venda de fruta, por exemplo: “Tem que ter o equilíbrio financeiro, se não vira utopia”.
Além do que se vê, quando o cerrado é desmatado, perde-se também o que está escondido. O cerrado é uma caixa d’água. Nele estão localizadas nascentes de importantes bacias do país como a do Rio São Francisco, do Pantanal e até da Amazônica. Um bom exemplo de como o cerrado pode ser usado sem ser destruído, quem dá é o empresário Clóvis José de Almeida. Anos atrás, quando estava desempregado, ele teve a ideia de fazer picolé de tudo qual é fruta do cerrado.
“Gabiroba, cagaida, mangaba, murici, araticum, saputá”, enumera Clóvis.
Deu tão certo que hoje já são três fábricas com 92 empregados: “Quem cuida do cerrado hoje, tem uma mina de ouro e diamante, porque a riqueza do cerrado é coisa incalculável” finaliza o empresário.