Biologia
Brasileiro abusa de remédios para emagrecer
Um deles acaba de ser proibido na Europa - mas continua sendo vendido no Brasil com retenção da receita.
Vale a pena correr o risco de morrer para ficar mais bonito? A insatisfação com o próprio corpo levou a jornalista Lanusse Martins, de 27 anos, a fazer uma lipoescultura - uma cirurgia em que a gordura em excesso em algumas partes do corpo é retirada e injetada novamente em outro lugar.
Durante a operação, ela teve uma veia do rim direito perfurada e isso provocou uma hemorragia interna. O médico Haeckel Cabral foi indiciado por homicídio doloso, em que há a intenção de matar, porque não tomou as medidas necessárias para salvar a vida da jornalista.
Só que esta não foi a única notícia que chamou a atenção para a corrida pela vaidade.
Em Goiás, a Justiça federal proibiu o médico Áureo Ludovico de fazer cirurgias bariátricas usando uma técnica que ainda não foi aprovada pelos órgãos de saúde. A multa estipulada pela Justiça foi de R$100 mil no caso de descumprimento da ordem. O médico retirava um pedaço do estômago e outro do intestino delgado - que era recolocado em outra posição para produzir hormônios, entre eles a insulina. Com mais insulina no corpo, o paciente emagrecia.
E além de cirurgias, o brasileiro também abusa de outro facilitador do emagrecimento - os medicamentos. Um estudo das Nações Unidas aponta que o Brasil está entre os maiores consumidores do mundo de remédios para emagrecer.
Um deles acaba de ser proibido na Europa - mas continua sendo vendido no Brasil com retenção da receita.
A sibutramina chegou ao mercado oferecendo tudo que quem quer perder peso gostaria de ouvir: Emagrecimento rápido e praticamente sem efeitos colaterais.
“Sou preguiçosa, não gosto de fazer exercício, parecia solução mágica e resolvi testar”, conta a estudante Litha Bacchi.
No começo, foi só encanto. “Emagreci 11 quilos. Estava com 86kg e fiquei com 75kg”, diz a estudante.
A sibutramina age no cérebro ajudando a aumentar os níveis de serotonina e noradrenalina - neurotransmissores que regulam as emoções. Mas ao impedir que esses neurotransmissores sejam recaptados, cria um efeito colateral poderoso: reduz o apetite.
Só que também provoca outras reações.
“Eu fiquei muito agitada, muito agitada mesmo. Quando eu fui trabalhar, fiz um monte de besteira por falta de atenção porque eu não conseguia focar”, lembra Litha.
Era mesmo bom demais pra ser verdade. A sibutramina acaba de ser proibida em todos os países da União Europeia. Um estudo mostrou que a substância aumenta o risco de doenças cardiovasculares graves, como derrame e ataque cardíaco em paciente obesos que já têm história de doenças cardiovasculares.
No Brasil, por causa do mesmo estudo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária fez um alerta a médicos e farmacêuticos.
“É preciso observar com muito mais cuidado os pacientes que tenham risco cardíaco já pré-estabelecido. Se houver opções de substituição, devem ser utilizadas”, alerta Dirceu Raposo de Mello, presidente da Anvisa.
A Anvisa recomenda os pacientes que já estão tomando sibutramina que conversem com seus médicos para saber se continuam ou não o tratamento. A Agência ainda vai decidir se vai tornar mais difícil a compra ou retirar do mercado um dos medicamentos mais vendidos do país. Foram quase duas toneladas em 2009.
Em uma reunião dos Vigilantes do Peso, são frequentes os casos assim. “Realmente, eu tive arritmia cardíaca. Eu falei pra ele, e ele mandou parar imediatamente”, conta a aposentada Cleo Strunck de Freitas. “Eu tinha histórico. Já tinha sido safenada em 1999”.
A enfermeira Patrícia Mendes, com 1m70 e 86 quilos, chegou ao consultório do cardiologista com sintomas preocupantes. “Tive pico hipertensivo e taquicardia. É uma coisa desesperadora, fiquei apavorada. E os tremores, coisa que você não consegue controlar”, conta ela.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia é categórica: o medicamento só é indicado para quem tem obesidade mórbida ou Índice de Massa Corporal acima de 30. O cálculo é feito dividindo o peso pelo quadrado da altura. Ou então, paciente com sobrepeso que tenha diabetes, por exemplo.
“Nós estamos lidando no Brasil com mais de 40% da população com sobrepeso e mais de 10% da população com obesidade. Isso favorece uma série de outras doenças, inclusive aumenta a mortalidade cardiovascular. Se nós pudermos tratar essas pessoas antes que elas desenvolvam essas complicações, será um benefício extraordinário para essas pessoas, e elas provavelmente vão se beneficiar em alguns casos do uso do medicamento, como a sibutramina”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo, Ricardo Meirelles.
Além de reduzir o apetite, essa substância acelera o metabolismo. Isso significa que a pessoa gasta mais calorias fazendo as atividades normais do dia a dia. Só que quando a medicação é suspensa, o peso perdido volta rápido, porque aí volta a valer uma regra da qual ninguém escapa: quem quer manter o peso, manter o equilíbrio, sabe que tudo que come em um dia precisa ser gasto em atividades físicas. Quem quer perder peso precisa comer pouquinho e gastar muito mais energia. Agora, quem insiste em comer mais e gastar menos energia, não tem jeito, acumula peso.
“A gente sempre fala que a mente tem que emagrecer primeiro. Antes, eu via o alimento, enquanto não visse o fim, eu não parava de comer. Hoje em dia, não. A gente tem que mudar a mente. Quando a cabeça muda, o corpo emagrece junto”.
Fonte: G1.com.br/fantástico
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