Biologia
A CIÊNCIA PERDE UM ACERVO INESTIMÁVEL: INCÊNDIO DESTRÓI COLEÇÕES DE SAPOS, COBRAS E LAGARTOS DO INSTITUTO BUTANTAN
O incêndio que ocorreu neste final de semana no Instituto Butantan atingiu em cheio a Ciência Brasileira. O que tem sido divulgado na mídia não reflete a real dimensão da tragédia, a perda - de forma tão devastadora e definitiva - deste acervo biológico. Este impacto não se mede apenas em números de espécies e amostras de répteis, anfíbios e aracnídeos. Obviamente os números são importantes para saber que se perdeu uma das maiores coleções de cobras do mundo. Mas apenas esta informação não traduz o que isso realmente significa em termos de pesquisa científica, os diversos projetos em andamento que foram interrompidos e sabe-se lá como alunos e pesquisadores irão superar este trauma e reconduzir seus esforços e sonhos para a reconstrução de uma nova perspectiva científica. Uma coleção não é apenas um punhado de bichos mortos guardados em frascos cheios de formol... são estudos sobre estratégias de vidas, ocupação de habitats, padrões de distribuição geográfica, registros históricos de ocorrência de espécies em áreas de florestas que talvez nem existam mais, registros de espécies endêmicas (ocorrem apenas em uma região determinada) e raras, estudos de identificação de novas espécies ainda desconhecidas da ciência (que correm o risco de continuarem assim... apagadas do registro biológico, fumaça biológica). Com certeza há uma infinidade de outros estudos que podem ser elencadas aqui com muito mais propriedade por zoólogos, taxonomistas e sistematas (como geneticista - mas também bióloga - deixo uma contribuição mais tímida e generalizada sobre o impacto desta perda, convido os especialistas da área para incluírem relatos mais específicos). Alguns breves depoimentos podem ser vistos aqui. Com relação ao que circulou na mídia, o texto que eu achei mais interessante e informativo foi o do "site" do Estadão (http://www.estadao.com.br/), inclusive com direito à Glossário (leia aqui). Uma frase muito perturbadora atribuída ao zoólogo Francisco Luis Franco, curador da coleção que virou cinzas, revela: "Todas as outras coleções estão vulneráveis do mesmo jeito." Recorro ao via gene para tentar expressar, de alguma maneira, minha solidariedade com aqueles mais diretamente envolvidos neste triste fato que se registra na história da ciência Brasileira neste ano de 2010. Lembro ainda que no ano passado, durante o encontro de 10 anos do programa Biota-FAPESP, muito se falou da necessidade de investimento para manutenção de coleções e museus de biologia para salvaguardar estes patrimônios biológicos e científicos. Eis aí um exemplo do que pode acontecer se ignorarmos esse apelo.
O sentimento realmente é de luto.
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